Armazém Cheio de Assunto

Para quem gosta de pensar no sim e no não, no antes e no depois, o "Armazém" é o lugar certo. Pode entrar, beba da minha "cachaça" sem parcimônia... Este é um Blog com crônicas afetivas que tenho escrito ao longo de um tempo, ou talvez, um ópio que produzo e uso.

segunda-feira, novembro 27, 2006

Mais uma volta em torno do sol

Nossa pele envelheceu mais quatro estações. Conhecemos músicas novas, pessoas, percebemos os cheiros das folhas das árvores na primavera, tomamos um porre, xingamos a mãe do cara que nos deu uma fechada no trânsito, consertamos nossos telhados, abrimos guarda-chuvas e também nossas janelas pra tirar o mofo...
Este ano está saindo pela porta dos fundos e não está deixando eventos que do qual eu me orgulhe tanto assim. Afinal, o que é um ano? Na verdade, é uma invenção nossa pra fazer festa como tantas outras. É a comemoração de um giro da terra em torno do sol em doze meses, mas e daí? É fato que nos acostumamos com isso em Dezembro, e especialmente no finalzinho deste mês, reavaliamos nossa vida como um balanço de uma empresa.
Um dia descobriremos que um ano começa todo dia...
Um dia vamos perceber que um prato só na mesa na hora do jantar nos causa profunda solidão, dois pratos é melhor.
Talvez, neste ano descobriremos que é impossível não se apaixonar.
Um dia vamos perceber que embora conheçamos mais de cinco mil pessoas, temos só um ou dois amigos de verdade, e vamos carregar estes amigos em nossos olhos tristes ou alegres a vida inteira...
Um dia perceberemos que o filho bom é aquele que está longe, ausência gera saudade... isso também vale para os pais (os meus me adoram e moram em São Paulo).
Um dia descobriremos que o presente é tão bom quanto o passado e que não existe isso de que “no meu tempo era melhor”. Seu tempo é hoje, exatamente agora.
Num tempo futuro entenderemos que a vida não se mede em anos e sim em minutos e segundos.
Vamos descobrir um dia que nascemos para amar e que o dinheiro e o prestígio não substituem isso...
Um dia descobriremos que precisamos, em algum momento na vida, ter uma conversa franca com alguém.
Um dia perceberemos que não cuidamos da semente que Deus semeou em nossas vidas, mas aí pode até ser tarde demais...
Um dia vamos notar que temos uma curiosa atração pelas coisas simples da vida, tipo sentir a areia da praia entre os dedos, você mesmo, certamente gosta de uma coisa bem besta.
Perceberemos que a felicidade total não existe, era só aquele momento único que você negou a si próprio e a alguém. Estas horas poderiam ser eternas, além de mudar o rumo de sua vida...
Um dia entenderemos que a loucura mais absurda que fizemos por alguém permanecerá viva no lugar mais secreto de nossas mentes...
Enfim, um ano é isso. Está sempre começando toda hora e sempre. Quando entendermos isso, teremos a chance de aproveitar mais os instantes e modificá-los ao nosso modo. Acredito que em 80 anos não dá para colocar todos os retalhos nessa colcha enorme de erros e acertos. Quanto mais cometemos erros, maiores as chances de acertos.
Se quiser, mande todo mundo ir se danar, aperte a tecla F, pra quê ser bonzinho nessa merda? Bonzinho sempre se fode... mas, outra possibilidade é mentalizar isso. Não tenha medo das decisões, não queira ser um super-herói, beije na boca de quem realmente você gosta, valorize-se, veja um pôr do sol de vez em quando, passe um tempo com seu filho, diga que sua mulher é a mais maravilhosa entre todas, e se não for, pelo menos um sorriso dela você vai arrancar, não negue uma lágrima em nenhuma situação, seja bem humorado, sinta-se chateado, pois é inevitável, e assim que baixar a poeira, resolva com a pessoa.
Um feliz ano novo pra você. “Quem não compreende um olhar certamente não compreenderá uma explicação”.

Allê Barbosa
e-mail:
alledimitri@hotmail.com
30 de Dezembro de 2003




P.S. Esta é uma crônica que publiquei em 2003 e trata-se de uma versão revisada.

1 Comentários:

  • Às 12:14 PM , Blogger Helena Meyer disse...

    Nessa época do ano em que muitas pessoas de repente se lembram que devem ser boazinhas e precisam pensar nos pobres, nas criancinhas e nos velhinhos, e assim criam uma aura de sentimentalidade para anestesiar a maneira superficial como levam a vida, é muito bom ler um texto lúcido e realista, que ressalta a importância de que somos responsáveis pelo nosso Ano Novo... Adoro esse texto, parabéns!!!
    Beijão!!!

     

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