Armazém Cheio de Assunto

Para quem gosta de pensar no sim e no não, no antes e no depois, o "Armazém" é o lugar certo. Pode entrar, beba da minha "cachaça" sem parcimônia... Este é um Blog com crônicas afetivas que tenho escrito ao longo de um tempo, ou talvez, um ópio que produzo e uso.

domingo, novembro 18, 2007

Ela sempre esteve aqui


Por mais que eu diga que ela é especial, fica sempre uma necessidade de dizer de novo, é a mesma vontade que a primavera tem de voltar para as flores uma vez por ano. Acredito, talvez ignorantemente, que sempre foi assim com a natureza, há sempre uma necessidade de ela fazer de novo, sempre há noite depois que o sol se deita em sua cama flutuante, sempre há um silêncio escandaloso depois do choro do guri, assim como estórias são sempre contadas depois das férias. Então tenho que falar novamente que aquela mulher de olhar acolhedor não sai dos meus pensamentos. Desconfio seriamente que ela sempre esteve aqui.


Se olharmos à nossa volta perceberemos cada vez mais pessoas indo aonde o vento leva, parecendo folhas secas de fim de estação, papel de bala na areia da praia, sem expectativa emocional no olhar, desconectadas do timbre que dita o ritmo da vida, materialistas, consumidores de modismos tão voláteis quanto acetona. Observar gente é uma boa atividade, é auto-conhecimento também. Neste exercício tenho sempre a sensação de que principalmente as mulheres, bonitas mulheres, estão colocando coleiras em suas almas, se vendendo às miligramas de silicone, às costelas que se tiram para afinar a cintura, às modinhas e comportamentos que desaparecem de um ano para o outro. E para quê? Para homens se apaixonarem? Absolutamente não, para homem tanto faz costela, cintura, silicone ou peito pequeno. Sensualidade não se compra em consultórios, escorre de dentro pra fora. Essas mudanças são para elas mesmas ou para que as outras mulheres vejam, assim como a cor do cabelo e o vermelho das unhas. Em suma, mulher se arruma pra mulher.


Impossível compensar a falta de um amor com modinhas e paliativos. Ele é indispensável e ridículo misturados na mesma garrafa, entre tantas garrafas da prateleira em que estão nossos sentimentos. O desejo de legitimar o vazio que a superficialidade deixa em nós é encoberto por um desejo ainda maior: o de amar e ser amado. Precisamos bastante desse amor subjetivo que os olhos não sabem medir, é como o cinema que é ilusão para os sentidos, entretanto, é muito real para quem o faz. Às vezes conhecemos pessoas que nem têm muito a ver com o nosso jeito e na falta de um argumento melhor que “não tem outro, vai tu mesmo”, desesperadamente, aprisionamos essas pessoas em nossas cabeças, para que não fujam de perto dos nossos olhos. O mundo está gerando pessoas impossíveis, amores impossíveis, gente que quer fazer parte do outro corpo, mas quer vir completa, sem nada a ser acrescentado, perfeita demais. Exatamente por isso não tem capacidade de completar outra pessoa... Esse não precisar de ninguém, essa urgência em dar conta do recado, essa completude estúpida é reflexo do individualismo, da auto-suficiência e perfeição, pratos preferidos da sociedade moderna.


Todos vivem grávidos de amor adormecido desde que o coração bate pela primeira vez. Amor adormecido é meia lua no céu, é maré enchida pela metade, é pele sem cheiro, é o meio barulho das ondas do mar, é um longo abraço vazio, é o futuro chegar sem trazer nenhum presente nas mãos. Engraçado, muita gente acha que isso já é tudo, que esse meio beijo basta a um coração. Mesmo que você não se aposse do amor, alguém, em algum lugar foi feitinho pra você, com todas as medidas e palavras precisas, com o sorriso que pode acalmar seu coração agitado.

Por natureza, tenho a sorte grande, já encontrei esse amor. Ela é minha outra metade, foi desenhada especificamente pra mim, sozinha é imperfeita como eu, contudo, construímos uma ponte onde passamos diariamente com os tijolinhos da nossa casinha, nosso jardim de nobre arquitetura. Amar alguém é no meio da noite olhar essa pessoa dormindo e isso lhe comover ao ponto de deixar seu coração pequeno e apertado. Amá-la é aproveitar cada gota do seu amor, é me banhar nessa luz, afinal, ela sempre esteve aqui.




Allê Barbosa

14 de Novembro de 2007

5 Comentários:

  • Às 10:52 PM , Anonymous Anônimo disse...

    Maravilhoso texto Allê!!!
    Sucesso sempre!!!

     
  • Às 4:49 PM , Blogger Ju. disse...

    nossa, muito lindo o texto, parabéns!
    beijo

     
  • Às 4:23 PM , Blogger Unknown disse...

    Oi!!Que lindo texto, viajei na leitura!! Parabéns!!
    Estava passeado pelo orkut e encontrei um trecho de seu texto, despertou-me a curiosidade então entrei no blog. Desculpe pela invasão, mas não póderia deixá-lo de parabenizá-lo pelas maravilhosas palavras.
    Patrícia Maria
    Bjos

     
  • Às 8:09 PM , Blogger OS Z ETES disse...

    De fato, as mulheres se arrumam para as outras mulheres. É algo inconsciente, sabe?
    Comigo isso também acontece, mas não de forma doentia como se é comum.. Agora, ainda bem que eu não sou dessas de pensar e silicone, lipo, cirurgias plásticas enfim...
    O amor é muito mais que isso. Hoje eu estava a conversar com um amigo meu e falávamos justamente da banalização do amor. Isso é bem visto até nas cantadas que nós mulheres recebemos de muitos homens. As pessoas não procuram mais pelo amor... tudo perdeu a sua magia. Hoje, para muitos homens, as mulheres só correspondem a uma espécie de depósito de espermas, sabe?
    E essa intenção se reflete justamente nas cantadas masculinas(não todas).
    A sociedade parece perdida nos seus próprios sentimentos e desejos... tudo está muito mecânico, comecial...
    As mulheres quereM ser Barbies, os homens, ainda não sei o que querem e assim caminhamos de maneira sem rumo. Isso é ruim!

     
  • Às 8:09 PM , Blogger OS Z ETES disse...

    De fato, as mulheres se arrumam para as outras mulheres. É algo inconsciente, sabe?
    Comigo isso também acontece, mas não de forma doentia como se é comum.. Agora, ainda bem que eu não sou dessas de pensar e silicone, lipo, cirurgias plásticas enfim...
    O amor é muito mais que isso. Hoje eu estava a conversar com um amigo meu e falávamos justamente da banalização do amor. Isso é bem visto até nas cantadas que nós mulheres recebemos de muitos homens. As pessoas não procuram mais pelo amor... tudo perdeu a sua magia. Hoje, para muitos homens, as mulheres só correspondem a uma espécie de depósito de espermas, sabe?
    E essa intenção se reflete justamente nas cantadas masculinas(não todas).
    A sociedade parece perdida nos seus próprios sentimentos e desejos... tudo está muito mecânico, comecial...
    As mulheres quereM ser Barbies, os homens, ainda não sei o que querem e assim caminhamos de maneira sem rumo. Isso é ruim!

     

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