Armazém Cheio de Assunto

Para quem gosta de pensar no sim e no não, no antes e no depois, o "Armazém" é o lugar certo. Pode entrar, beba da minha "cachaça" sem parcimônia... Este é um Blog com crônicas afetivas que tenho escrito ao longo de um tempo, ou talvez, um ópio que produzo e uso.

segunda-feira, julho 30, 2007

Nosso jeito feliz

Eu me apaixonei novamente por ela. Acho que foi ontem na milésima vez que ela olhou pra mim daquele jeito. Se apaixonar de novo pela mesma pessoa é perfeito, é sinal de inteligência. Naturalmente nossas células se renovam o tempo todo, nosso cabelo sofre modificações, o sangue se renova, os conceitos mudam, nossa compreensão se adapta, nossos cheiros estão sempre passando por variações. Por que a paixão e o amor não se renovariam?

O incenso de sândalo estava aceso em cima da mesinha do quarto desenhando formas abstratas no ar. O cheiro bom pedia passagem de um lado para o outro do quarto anunciando o desejo de beijos e palavras como cobertura. Xuxu, o gato, não entende nada dessas coisas, mas estava presente neste espaço interessante. Toda essa nossa percepção legítima se misturava às ondas da música “21st century kid” do Jamie Cullum. Daí, como não se apaixonar de novo pela mulher ideal? Claro como a luz do dia, percebi o nosso jeito simples de ser feliz. É esse jeito que nos mantém ligados e focados no que realmente é importante para que nosso amor respire tranquilamente.

Um incrédulo poderia dizer que isso não existe. De uma forma que não sei explicar, intuitiva talvez, acredito seguramente que a gente sempre tem o que acredita. Eu a encontrei porque sempre alimentei a sua existência. O meu dia-a-dia com ela parece uma história lúdica bem escrita por algum bom romancista que também acredita no amor. Às vezes passa por minha cabeça a idéia de que ela não seja daqui da Terra. Quem sabe ela seja uma marcianinha disfarçada de gente com poderes de abdução. Aliás, nunca fui da turma dos normais em nenhuma fase da vida, sempre achei que já fui abduzido pelos ETs , talvez ela me explique isso, é mesmo! Vou perguntar pra ela.

Ela tem o jeito apropriado e contagioso de se movimentar pelas avenidas e ruelas da vida. Quando estou no auge de minha distração, ela aparece com um sorriso que se encaixa no meu e uma carinha que me deixa sem chão, derretido e de coração bobinho. Se viajo a trabalho fico longe do seu corpo por alguns dias. Entretanto, o seu beijo consegue entrar em minha boca e fazer morada, assim o carrego aonde quer que eu vá. Nesses dias de ausência consentida fico querendo saber se ela assistiu ao documentário que ia passar na GNT, se ligou o aquecedor do chuveiro, se desligou o estabilizador do computador antes de dormir, se molhou nossa plantinha. Ela é engraçada por natureza, sempre fala de coisas e faz o som das coisas que ela fala. “Tchuc, tchoim, ploft” evidenciando ser uma mulher musical e percussiva de alma.

Os tijolinhos que preenchem as paredes do amor são essas particularidades simples. Ela tem o cuidado de pensar em cada coisa que eu gosto e no jeito que gosto das coisas. Até o queijo que gosto aparece na geladeira quando esqueço de comprar, como se minha felicidade dependesse do queijo e não do sorriso dela. Ou meu manual é muito fácil de entender, quase auto explicativo para não dizer um folheto, ou ela foi treinada na cidade dos anjos.

Amar às vezes dói. Essa angústia desatina o sossego porque a gente não quer que a pessoa sofra nunca. Invariavelmente, amar deixa rastros, deixa vestígios como os pés deixam sua marca na areia da praia. Amar dói porque nem sempre somos o analgésico que faz a dor sumir do olhar da pessoa que se ama. Queria ter algum tipo de poder para aliviar todas as preocupações dela, desfazer o rostinho triste no mesmo momento que surgisse, desmanchar o franzido da testa, acalmar o coração inquieto e apreensivo. Amar mexe tanto comigo que às vezes me dá vontade de chorar. É uma força não explicável que esmaga minha compreensão.

Estou sempre escrevendo sobre ela. Nos meses que não escrevo estou grávido, nutrindo a gestação do que você está lendo agora. Não é uma forma de tornar público um amor, um farol norteador de barcos, mas é como uma música romântica que a gente ouve no rádio, uma história cantada. Ela me faz ser um texto e depois me traduz por inteiro, me enriquecendo com sinônimos e significados. Sua inteligência me lê facilmente quando durmo, e quando acordo me sinto realizado. Cada olhar meu tem uma resposta dela, é como o azeite que dá o toque quente na salada. Queria roubar dela o jeito que ela consegue entrar em mim e descobrir como elaboro meus pensamentos. Ela percebe melhor o que eu sou do que eu mesmo.

Parece que foi ontem que eu reparava nela, toda feliz, de chinelinho rasteiro no pé, ouvindo “Gente boa se atrai” de Peu, parecendo criança brincando com água na piscininha azul de plástico, de blusinha casual e olhinhos brilhando. Com o passar do tempo passamos a reparar em outras coisas. Hoje à tarde reparei nos detalhes do cabelo, na mistura de pele com o novo hidratante, nas pulseiras e colares que sempre combinam com tudo, na empolgação sobre o novo projeto empreendedor, no vestido novo que ela usou no aniversário, no nosso destino. Sou intrigado com o organismo vivo que chamam de destino. Nosso caso de amor é um encontro de alma que estava programado há 300 anos. Só assim posso entender o motivo de minha alma ser incrivelmente nua, sempre fabricar olhar curioso de menino que consegue ver mil maneiras em uma mulher.

Nosso jeito feliz não é nenhum segredo. É a oportunidade de rir que aparece a qualquer hora e a gente aproveita muito bem. É quando tudo sugere que se quebre o pau e a gente se beija com entrega. Quero que o sol vá embora assim que possível, quero que ele deixe uma licença para a noite cuidar de nós, nos carregar para a cama bem cedo. Amor, quero sua cabeça reclinada de novo em meu ombro esquerdo que é seu travesseiro preferido, quero fazer cafuné em seus cabelos até que você durma, e então, amanhã começar tudo de novo, o nosso jeito feliz.

Allê Barbosa

28 de Julho de 2007

10 Comentários:

  • Às 6:12 PM , Anonymous Anônimo disse...

    Como é que eu posso, Senhor Lelê, dizer que os apaixonados são bobos quando me encontro assim também?
    Textinho muito bonitinho, bem a cara de vocês dois gritando "Whiskinhas" juntos!

    Beijo!

     
  • Às 7:29 PM , Anonymous Anônimo disse...

    Parabéns Allê... Parabéns a você por ter encontrado essa pessoa tão perfeita, e parabéns a ela por ter encontrado alguém q consiga traduzir tão bem assim, todo amor q sente...
    beijo

     
  • Às 7:33 PM , Blogger Allê Barbosa disse...

    Brigado pelo comentário, cris. Tiramos a sorte grande mesmo...

     
  • Às 7:35 PM , Blogger Allê Barbosa disse...

    Senhorita Paulinha, coloquei de propósito. Esta casa tem 3 bobos no momento...rsrsrs...

     
  • Às 11:43 PM , Blogger Helena Meyer disse...

    Escrever sobre o amor talvez seja a mais difícil tarefa de um escritor. Como ser lírico sem ser piegas, como abrir o coração sem parecer bobo ou ridículo, como falar de um assunto já tão batido sem cair no lugar comum? Tarefa para mestres escritores e poetas... Mas vc consegue fazer tudo isso, e produz poesia em prosa, como fez nesse texto, e em tantos outros.
    E o melhor de tudo é saber que tanta beleza é inspirada pelo nosso encontro, essa coisa mágica que aconteceu pra nós dois... Parabéns, amor, pelo texto lindo e principalmente pela pessoa sensível que vc é.
    Um beijo bem grande!!!

     
  • Às 11:46 PM , Blogger Allê Barbosa disse...

    Vou voarrrrrrrrrrrrrrr

     
  • Às 8:08 PM , Anonymous Anônimo disse...

    Oi Allê, vc não me conhece mas eu já tive oportunidade de te ver no palco e ouvir suas músicas. Eu não imaginava era que podia me surpreender mais ainda contigo...Eis que ao visitar o seu blogger, me deparo com tanta coisa linda escrita, que realmente me fez viajar. Estou aqui sonhando até agora...O amor que você descreve é o mesmo que eu e tantas outras pessoas procuram até hoje... Sempre acreditei em um amor como esse, em "almas gêmeas" que se completam e não se anulam, não perdem a sua identidade.Um amor que respeita e aceita que o outro é diferente,possui defeitos, mas sabe que é possível aceitá-los e conviver com eles, sem necessariamente ter que mudar.Queria tanto um amor assim pra mim...Talvez esteja até mesmo aqui ao meu lado há tantos anos e eu não tenha percebido. Penso que o segredo mesmo deve ser fazer como você...Me apaixonar novamente, tantas vezes quantas forem preciso,pelo mesmo homem.Creio que vale mesmo tentar e é o que pretendo fazer...Graças a você estou inspirada. Te admiro cada vez mais! Parabéns por você ser a pessoa maravilhosa que é, por tudo que você escreve, pela linda mulher que tem e principalmente pelo amor dos dois. Felicidade SEMPRE e muito sucesso pra você! Beijão e grande abraço.

     
  • Às 9:09 AM , Anonymous Anônimo disse...

    Cara...
    Como a Helena disse é muito difícil escrever sobre o amor, eu vou um pouco mais longe: Escrever descrever, traduzir, plottar, criptografar o amor é sem dúvida a mais dificil tarefa.
    Sabemos que a boca fala do que o coração está cheio, partindo daí posso definir o que você escreveu como uma "obra de arte", uma "pintura" com vários tons, cores, linhas, curvas e retas, perspectivas axonometrico ortogonal, enfim, coisa que nenhuma geometria seria capaz de transpor ou nenhuma outra fórmula matemática capaz de definir.
    O amor é sem dúvida uma dádiva, uma poção mágica, onde a razão e a loucura equalizam e se entendem.
    Só quem ama realmente pode entender o amor, mas quantificá-lo e qualificá-lo é impossivel.
    Deixo minha admiração e votos de FELICIDADES pra você e pra Helena. Que este amor seja como um selo, como uma tatuagem no coração e na alma de vocês.

    Um grande Abraço

    Ted.

     
  • Às 1:33 PM , Blogger Allê Barbosa disse...

    Porra, disse melhor que eu em menos linhas, e eu precisei de duas páginas...rsrs..Parabéns, meu velho, pelo raciocinio....
    Abraço, vc é meu irmaozinho.....

     
  • Às 6:45 AM , Anonymous Mariza disse...

    Se apaixonar já é bom demais,mas se apaixonar várias vezes por vários anos pela mesma pessoa realmente é incrivel.E só é capaz disto quem se entrega com alma e deseja o mais simples da vida,o mais simples muitas das vezes o mais complicado pra muitos que não consegue perceber o encantos das pequenas coisas como o amanhecer ou mesmo o aconchego no anoitecer de dois corpos unidos pelo mesmo desejo de fazer o outro feliz é aí esta o segredo só somos capazes de nos apaixonar várias vezes quando queremos fazer o outro feliz e nosso cia tb desejar nos fazer feliz e assim sem perceber nos apaixonamos todos os dias.Tudo tão simples,mas a simplicidade do amor muitas das vezes faz que muitos o torne um calculo sem fim e é apenas uma soma..rs...Só posso desejar que vcs continue sempre percebendo como é simples amar é só se entregar sem medo de amar.
    Espero que a Helena seja sempre sua inspiração,pois é muito bom ler belas palavras,ler sentimentos.

    Mariza

     

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