Feminina, elegante e convidativa

Falar de mulher é sempre um delicioso desafio, é uma procura de palavras que caibam uma mulher dentro, é uma sinestesia, um desabafo da boca, um absorver do ouvido, é um sair de si e deixar a porta aberta, é um parir sem dor. É um perigo falar de mulher, já que é preciso encontrar o frágil equilíbrio entre impacto e sutileza.

Falar de homem é fácil. Homem é sempre igual, sempre parece ser mais do que realmente é, mas no fundo é um caixotinho de tomates, pintado a pincel com tinta barata. Dentro desse caixotinho, além dos tomates, têm alguns fios, circuitos primários, fusíveis e um manual, tudo muito simples. Por mais criativos que os homens sejam, caem sempre na vala da previsibilidade, na limitação, na falta de imaginação, ausência de intuição, na insofisticação. It doesn't matter, são todos iguais.

Já a mulher é a medida da complexidade, chega a parecer alienígena. Ela é como um quebra-cabeça de milhões de partes, e quando pensamos que montamos o quebra-cabeça, descobrimos que isso é apenas uma parte de alguma coisa maior: o incompreensível universo feminino. Observar mulheres conversando é sempre um presente e mesmo quando não falam coisa com coisa, tem um certo charme, soa musical.

E nesse balanço de observação não tem como não me lembrar do Saia Justa, programa do GNT que sempre assisto. Trata-se do quarteto mais adorável da TV, fêmeas inteligentes que produzem um pensamento questionador, engraçado, ensaiado quando convém, às vezes necessariamente fútil, sempre espirituoso e convidativo sempre. Eu acrescentaria a minha mulher àquela roda de debate, ela teria muito a contribuir, acho que ela faria o gênero Mônica Waldvogel, que é incrível, sempre exata, não sobra, não falta, classuda e elegante até o limite.

Saia justa é admitir que não existiria amor se não fosse a existência da mulher, é aceitar que somos continuamente devedores de amor, que a conta nunca se fecha. Amor seria ficção se não fosse a minha mulher, a sua, nossas mães e irmãs, avós, amigas, inimigas, as chatas, as burras, morenas, japonesas, haitianas. O amor necessariamente nasce no útero e se espalha para a vida. Uma mulher antes de tudo fica grávida de amor e é esse amor que nos acompanha quando nascemos. Acho que amar é perder o juízo, e meu juízo está todo comprometido. Tudo que eu não achava necessariamente sexy no passado, na minha mulher ficaa encia perfeito. Nunca fui fã de unhas vermelhas, sempre preferi unhas claras, mas é incrível como isso foi anulado, gosto de tudo que é cor que ela coloca, e não é tolerar a cor, realmente acho que fica bonito.

Impossível compreender o dia 08 de março num aspecto romântico se você não convive com uma mulher. Não quero aqui falar das lutas por melhores salários e igualdade, o mundo todo está falando disso hoje, prefiro ir além das bandeiras. Só compreende uma mulher quem produz sensibilidade, quem assiste seu sono acontecer, ouve cada palavra que se projeta da sua boca e participa dos seus sonhos. Não sabe quase nada de mulher quem não faz massagens nos pés dela no meio da noite para aliviar a câimbra, quem não cuida, quem não a ouve reclamar do Listerine que arde tanto que ela sente a língua tremendo, quem não acha engraçado ela reclamar do controle remoto da SKY de mil botões. Difícil acreditar num homem que diz gostar de mulher, mas não consegue enxergar acima da bunda dela, mas não participa de seu dia, suas chateações, suas birras, suas brigas com a balança, suas pazes com as saladas, suas vaidades e atração por saltos, colares, brincos e gloss, seu jeito de mexer no cabelo, seus planos sobre qual vestido usará amanhã na reunião com o novo cliente, seus sorrisos e seus momentos mais importantes.

Pelo menos hoje gostaria que não houvesse mulher apanhando do marido, fadadas ao fracasso como ser humano, sendo molestada, ganhando menos, descobrindo que guarda um câncer de mama, corroídas pela solidão e sem amor próprio. Ao invés disso, pelo menos hoje, queria que todas as mulheres descobrissem como é boa a sensação de ser amada plenamente, de sentir que se encaixou em alguém, sentir que até seus sorrisos são traduzidos. Pelo menos hoje...

Sou grato a Deus por ter uma mulher perfeita para amar, ter um ombro para reclinar a cabeça em dias difíceis. Ela sabe o quanto me interesso por suas coisas, sua vida, suas preocupações. Ela sabe como eu sou apaixonado por ela, pela delicadeza das suas mãos acariciando minhas costas, fazendo os poros responderem com um silencioso arrepio. E assim, toda vez que ela colocar aquelas pulseiras no braço, que fazem barulhinhos, saberá também que ao mesmo tempo essas pulseiras tocam a mesma música do meu coração. Parabéns, amor! Parabéns, mulher!

allê Barbosa
08 de Março de 2008