Armazém Cheio de Assunto

Para quem gosta de pensar no sim e no não, no antes e no depois, o "Armazém" é o lugar certo. Pode entrar, beba da minha "cachaça" sem parcimônia... Este é um Blog com crônicas afetivas que tenho escrito ao longo de um tempo, ou talvez, um ópio que produzo e uso.

terça-feira, dezembro 04, 2007

O que vão pensar de mim?

Quando essa pergunta se torna indispensável na vida de alguém, muitos momentos bacanas são anulados e pisoteados como formiguinhas desmilinguidas. Este texto não é para gente chata, para os “Diogos Mainardis” do cotidiano, gente insípida e abusada que tem o próprio umbigo como centro do universo, gente que não sabe se divertir com o que se tem à mão, gente que torce o nariz para tudo que não fizer parte de suas construções mentais. Conheço algumas pessoas chatas, logo eu que flerto tanto com o brega, que é água que gente chata faz questão de não beber. Geralmente as pessoas inteligentes e criativas são irritantes, todo comportamento que não seja como o deles é alvo de uma observação no mínimo pejorativa. Dificilmente essas pessoas relaxam, nem cagando se soltam, é uma urgente tensão, eles querem falar de tudo com propriedade e nunca são pegos com calças curtas... Acho que isso acontece basicamente por medo de perderem o troféu e o primeiro lugar que eles mesmos se deram.

Ah, mas existem os inteligentes e criativos que não são chatos, não precisam provar que têm o mundo micro-dimensionado em compartimentos dentro da cabeça. Exemplos perfeitos disso são Rubem Alves e João Ubaldo Ribeiro. Porra, são caras comuns que sentem prazer em pratos sofisticados e sabem valorizar o nosso bom e velho feijão com arroz, andam de chinelos de dedos e pisam em tapetes vermelhos pelo mundo, ouvem jazz e respeitam estilos populares brasileiros. Prefiro esse tipo de gente inteligente do que os inteligentes que se acham gênios, above all, os que sempre têm mais explicação sobre o livro do que o próprio autor, têm mais interpretação sobre o filme do que o próprio diretor. Não compreendemos suas idéias, suas músicas, suas campanhas conceituais e até suas piadas são complexas. Eles se embebedam de vaidade e têm medo de que por alguns segundos pareçam ridículos.

O passatempo preferido de gente besta é exibir todo seu conhecimento com um único objetivo: humilhar, sempre com sutileza, é claro. Geralmente essas pessoas são cópias de outro chato e metido que produziu idéias que viraram alguma bíblia. Uma cópia é feita de uma originalidade esgarçada, e querendo ou não, tudo é uma reles cópia debaixo do céu. Fala-se tanto sobre personalidade que ela virou a palavra da moda. Quem tem personalidade é o máximo! Me parece que ter personalidade é fumar maconha, gostar de Otto, do Teatro Mágico, Mombojó, Cordel do Fogo Encantado, Woody Allen, mulher raspar a cabeça, colocar piercing no clitóris e também na língua. Ou talvez seja ser bissexual, tatuar “Eu sou o MÁXIMO” no próprio pênis, ficar bêbado gratuitamente. Sei lá o que é isso, mas antes de tudo são escolhas, orientações que deixam alguém feliz, não significa que quem não fizer escolhas como estas não tenha personalidade, se desqualifique diante de um grupo. Na verdade, a palavra da moda deveria ser respeito.

Tenho por religião não levantar bandeira para nada, quem sabe eu acene para a diversidade cultural que temos no Brasil. Chega uma hora na vida da gente em que as crenças juvenis se envelopam, vão se evaporando como neblina ao beijo do sol, as bandas que gostávamos ficam sem brilho, o couro da bota fica seco, a jaqueta de general já não tem tanto impacto e o tipo de lugar que freqüentávamos fica frio. Nesse momento, ter personalidade não é se prender a um feixe de idéias flutuantes ou se fechar para a pergunta: “por que não?”. É claro que não vou me perguntar: por que não dou minha bunda de vez em quando? Certa vez, Gilberto Gil disse que deu o fiofó e não gostou, eu nem dou, porque sei que não vou gostar. Na falta de uma explicação melhor, essa vem a calhar. Afinal, não sou tão livre assim e prefiro morrer sem experimentar certas coisas.

Não ligo se eu parecer brega e careta, patético ou fora da moda. Detesto moda que não seja espontânea como a vontade de beber água. Todo ano, editores de moda, em alguma sala de NY ou Milão dizem que o mundo inteiro vai usar melancia na cabeça no verão seguinte e quase todos seguem esse padrão sem titubear. Não ligo se meu tênis 2007 não combina com a calça branca que comprei em 98, não ligo se a música que gosto não é a que te seduz. Sou feliz sem precisar de aprovação, só me falta ficar nu o dia todo e andar por ruas sem nome, sem trânsito e semáforos. Se um dia eu ficar inteligente espero não esquecer em qual gaveta eu guardei minhas palavras.

Allê Barbosa

30 de novembro de 2007

2 Comentários:

  • Às 8:57 PM , Anonymous Anônimo disse...

    Sei não, man... Li duas vezes esse texto. Opino da seguinte forma: ser inteligente é saber a melhor maneira - para a própria vida - de ser ignorante.

    A ignorância pode cegar um pouco, caso pense isso; concordo. Mas também dá o senso de humor necessário para rir da própria cara e da cara dos que especulam o "que é o quê", o "porquê do porque", e o "é assim porque é". Quem tem respostas exatas para ilusões deve mandar o currículo para produção@davidcooperfield.com

    Angelo.

     
  • Às 7:55 PM , Blogger Ana Vitória disse...

    Belas concepções...

    Entre inteligentes, inteligentes e criativos, bestas etc. Também podem existir aqueles que querem apenas viver... Sem aparecer,
    sem humilhar, sem arrogancia e sem ligar para o que vão pensar!

    Porque o mais careta possivel que você possa aparecer, você vai se sentir a vontade.

     

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